quarta-feira, setembro 02, 2009

Histórias de Tião - parte 1

Marise: Hoje não tem comida em casa, tratem de se virar.

Andei pelas ruas cabisbaixo até que lembrei de Claudinho, esperto que só aquele neguinho, daria um jeito de me ajudar.
Fui até a padaria do Portuga Fernando Cardoso, sempre com aquele sorriso de deixar qualquer um contente.
Lá estava Claudinho, comendo seu sanduiche de presunto com refresco de groselha.
Gritei: - Fala seu preto meliante!
- Eta Polaco desgraçado. Tá fazendo o que por aqui uma hora dessas?
- Cara, preciso de um favor seu.
- Pode mandar, faço tudo pelo meu amigo polaco preferido.
- Tudo mesmo cara?
- ah, faço sim, Tião. Por que? O que arranjou dessa vez cara?
- Você sabe que mamãe tá desempregada né?
- Ih Tião, emprego aqui na Rocinha tá difícil pra caramba..
- É eu sei, e só estão empregando pessoas mais moças.. mamãe já deixou de ser moça faz tempo.
- E o que vc quer que eu faça? Se for dinheiro desista, não tenho um conto de réis pra lhe dar!
Mas que filho da mãe! hoje em dia não se pode pedir favores e já acham que queremos dinheiro, que mundo injusto!
- Não quero dinheiro, seu preto! preciso de suas habilidades africanas para pegar uma daquelas galinhas gordas do Tuninho!
- Ai ai ai, Tião !
- Você disse que faria tudo..
- Vou fazer porque você é meu amigo, mas saiba que você vai ficar me devendo essa!
- Valeu Claudinho, você é amigão!
- Simbora!
Fomos andando até chegar no quintal colossal da casa do Tuninho, ainda bem que não tem grade, seria difícil pular sem ganhar algum ou alguns arranhões.
O Claudinho é muito esperto, trouxe um galinho, daqueles pequenos e brabos, de vez enquando ganhava algumas brigas de galo na rua com o bichinho, dava pra lucrar uns bons cascalhos! Eu bem que podia arranjar um daqueles, iria lucrar bastante..
- Agora é só soltar ele e assistir o show, Tião! com uma mão eu solto o galinho, com a outra eu pego a galinha!
- Puxa Claudinho, quanta esperteza, com quem aprendeu isso?
- Foi meu avô, aquele preto velho sabia de tudo que tem nesse mundo e mais um pouco, aí me ensinou algumas coisas..
- Meu avô morreu ano passado, ele tinha uma doença que ficava tremendo as mãos, era engraçado, minha mãe dizia que ele servia bem pra fazer nenem dormir.
- Como assim?
- Ai, mas você é jumento mesmo hein, Claudinho! Servia pra fazer neném dormir porque ficava tremendo as mãos, se tremesse na cabeçinha do bebê logo iria fazê-lo dormir, capiche?
- ah sim! Tião, me diga uma coisa, Pra que você quer essa galinha?
- Pra comer oras!
- ah sim, claro, agora temos que torcer a cabeça dela... feche os olhos, Tião.
Deu pra ouvir o 'crec' do pescoço e o último suspiro da pobre galinha, tinha bastante sangue e a bicha continuava se mexendo, sinistro! Será que se eu cortar minha cabeça eu continuo me mexendo?
- Pronto. Chega de corversa, segura ai meu galinho, vou colocar a galinha nessa bolsa de lona, o galinho você põe na outra. Vamos pôr um bocado de mato por cima para que ninguém perceba o conteúdo. Me ajude!
Que preto esperto, esse ia longe! Começamos a andar, as pessoas viam a bolsa, não notavam, nem se quer imaginavam o que havíamos acabado de fazer, mas afinal, um menino precisa se alimentar! E por toda gente que passávamos o Claudinho gritava:
Puxa, não consegui pegar a erva que queria hoje.. que pena, tentamos amanhã.
Como era esperto e burro esse preto meliante...

Nenhum comentário: