terça-feira, setembro 29, 2009

Rua













Pedras, buracos, quebra-molas
casas, plantas, postes
calçadas, ventos e pessoas.
parece ter muito movimento
desde de cedo já se pode sentir os raios do sol beijando os rostos.
alguns caminham, outros ficam parados.
A maioria está lá apenas por residir.

Alguns estão só de passagem
Uns estão perdidos
outros se encontram
Alguns não sabem o que fazem ali
Aquilo lá não é de ninguém, ou seria de todos?
se fosse minha eu mandava ladrilhar.

Alguns acham feia.
Eu acho bonita.
Pela janela a observo.
cachorros passam, carros passam, pessoas passam.
e ela continua lá.
Observando todos e sendo observada.

quinta-feira, setembro 24, 2009

Há males que vêm para o bem.

Hoje, 24 de Setembro, fui a aula, como é de meu feitio em todas as quintas-feiras.
Pra variar cheguei no segundo tempo,como é de meu feitio em todas as quintas-feiras, acontece que para o meu desprazer, os dois primeiros tempos são de matemática.
Ao chegar na escola me sentia mucho bien, nada me incomodava.
Não sei se por odiar matemática ou por odiar a escola, costumo sentir dores de cabeça freqüentes (eu amo tremas, foda-se) de segunda a sexta.
Mas dessa vez não foi como o habitual...
Abrirei um pequeno parêntese pra contar um pouco sobre minha professora de matemática:
Levemente rechonchuda, Valéria tem, com certeza, mais que 50 anos, faz uns 3 anos que o boato dela ser lésbica pairou sobre o colégio Voltaire e levantou várias outras fofocas sobre a mesma.
Valéria, também conhecida como Cherifa, trata-nos como meros estudantes do jardim de infância.
Sabe-se pouco sobre sua vida pessoal, ela já deu aula pra alguns pais de alunos, professores da escola e até, arrisco dizer, diretores.
De cabelos loiros-esbranquiçados, Valéria não é lá muito simpática, se passa algum exercício raramente esquece de conferir quem fez e quem não fez ( exatamente como a sua professora Jusciléia da 3ª série fazia, lembra?).
Na aula de Valéria não é permitido levantar pra jogar seu papel de bala no lixo. Banheiro e água são, certamente, inaceitáveis! Segunda ela, "O ser humano consegue viver 3 dias sem água" um dia vou esconder aquele garrafão de água dela pra ver quanto dura os 3 dias que ela diz aguentar viver sem água.
Durante a explicação da matéria, você que é aluno, não pode se comunicar com outro nem por linguagem dos sinais (típica dos alunos), porque segundo a mesma a atrapalha !
Dormir? é bom mesmo que você não tenha nenhum problema de coração. Valéria faz questão de te acordar com um grito sutil.
O melhor mesmo na aula de Valéria é ficar em posição de mumificação e não abrir a boca nem para bocejar.
Fim de parêntese.
Como eu estava dizendo.. senti uma dor de cabeça descomunal.
Devo recordar que aula era... sim, matemática, com aquela mesma que você acabou de conhecer...
Lembrei que Stéphanie ontem estava desfilando pela sala com uma cartela de dipirona ( meu velho amigo), mas como fazer pra falar com Stéphanie?

Primeira tentativa - fracassada
levantei os braços, tal como quem acabou de ganhar um campeonato de futebol, sim, bem primata.
Para a minha surpresa todos os alunos da sala me olharam com ar de desprezo, exceto Stephanie que continuou autistando..

Segunda tentativa - novamente fracassada
Chamei Stéphanie por seu nome, alto mesmo, resolvi esquecer em que aula eu me encontrava e tentei aquela famosa linguagem dos sinais.
Não vou abrir um novo parêntese para contar a história de Stéphanie mas, como a maioria das pessoas sabe, Stéphanie não é muito boa em entender essas linguagens de sinal, mas ela geralmente faz que sim e você fica achando que transmitiu a mensagem.
Senti um alívio, pensando que Stéphanie tinha entendido o que eu queria dizer que era: Tem remédio pra dor de cabeça?
Já tinha aberto um sorriso de orelha a orelha quando ela olhou pra mim e falou : Você mudou o shampoo do cabelo?
...
Ok, Stéphanie, não entender o que eu quis dizer é, no mínimo, aceitável já que estávamos a pelo menos 5 metros de distância, mas confundir com isso é o fim!
Na mesma hora a agradável Valéria olha pra nós com cara de cu mal lavado.
Voltei a sofrer com as dores de cabeça..
Eu já estava a ponto de interromper a aula e dizer que estava morrendo, mas resolvi esperar o intervalo entre a correção de um exercício e outro.

Terceira tentativa - quase bem sucedida
Chamei uma pessoa com o ouvido mais aguçado e pedi que esta chama-se Stéphanie.
Quando Stéphanie me olhou resolvi mudar minha frase para: Tem dipirona??
Dessa vez ela entendeu e ficou 2 horas repetindo : Dipirona? Dipirona? pra cabeça? Dipirona? Dipirona?
Eu balançava a cabeça quase que como se estivesse possuída.
Ela pegou o remédio e mostrou na sua mão.
Como eu iria pegar aquele remédio?

Eu já estava cabisbaixa quando ela me cutucou e disse : tá aqui.
eu só ouvi aquele coro no meu ouvido : OOOOOOOOOOH! - típico de desenhos animados.
Na mesma hora a Sra. Cherifa se manifestou: Stéphanie!
Stéphanie só disse: Eu só fui entregar o remédio pra Marina...
Sra. Cherifa: Que você foi entregar o remédio pra Marina eu vi, mas não entendi o motivo de você estar desfilando aqui na frente.
...
Na minha cabeça se passaram todos os palavrões que eu aprendi nesses 15 anos de vida.
Vi a cara de emputecimento de Stéphanie, respirei fundo e segurei o remédio com força pensando agora em como eu iria fazer para tomá-lo.
Se eu pedisse pra pegar água era capaz de Valéria me mostrar a estatística ( que ela leu na Veja) de quanto tempo o ser humano consegue viver com dor de cabeça...
Então resolvi esperar até o intervalo entre a aula de matemática e a de história.
Tomei e voltei.
Quando voltei alguém me disse: E aí estudou?
falei: Eu deveria ter estudado?
a pessoa riu e continuou: cara, vai ter prova de história agora.
Sensacional! crises de dor de cabeça seguidas de uma prova de história!
fiz cara de desperate housewives e a pessoa me acalmou dizendo: Relaxa, você é boa em história, vai se dar bem, além disso a matéria é fácil, é só " A mineração no Brasil colonial" .
eu realmente não tinha ideia do que era aquilo, falei: Cara, não é esse o problema, é que tô com uma dor de cabeça infernal.
A pessoa me perguntou se eu já tinha tomado remédio e depois me deu a ideia de pedir pra fazer segunda chamada.
Seria perfeito, há males que vêm para o bem.
Ligaram para minha mãe, ela veio me buscar a tempo de eu já ter feito 5 provas... enfim, fui na escola hoje pra assistir 50 minutos com Valéria gritando na minha cabeça sobre alguma coisa de funções, nem lembro, estou com dor de cabeça demais pra lembrar.

terça-feira, setembro 22, 2009

um pouco do meu romantismo

Ao passar pela velha ponte, não olhe para o lado, pois poderás encontrar com o vento escuro da noite que te assustará. O melhor será olhar para o céu onde encontrarás respostas nas águas e sentirás segurança em mim.

segunda-feira, setembro 21, 2009

Duas vontades inconvenientes

Vontades de gritar e quebrar as coisas vieram sem bater na porta, muito menos pedir pra entrar.
Se sentiram em casa, comeram coisas que estavam na minha geladeira, usaram minhas roupas e dormiram na minha cama.
Vou pedir com educação,
Será que vocês podem se retirar, por favor?

você rima comigo.

No meu jogo você só vence por w.o
Não me venha com perguntas difíceis,
as mais fáceis me poupam tempo.
Ontem acordei pensando em você e você estava longe como é de costume.
A distância é um prato que se come frio.
Não, eu não estou misturando, me ouça com atenção.
você já sabe o que eu quero te dizer.
Poupe minhas palavras e vá tomar um dipirona pra curar essa sua dor de cabeça.
Eu daria tudo pra entender sua frieza tão repentina.

domingo, setembro 20, 2009

Luddite

[Novembro - 1810]
Ontem eu fui demitido, eu e cerca de 60% das pessoas que trabalham comigo.
Dizem que vão nos substituir por máquinas mais eficientes que nós.
Rachel, minha mulher, disse que vai procurar um emprego nas fábricas, parece que vamos nos mudar para a cidade...

[Julho - 1811]
Entrei para o movimento dos Ludistas, Rachel não gostou muito da ideia, ela disse que isso é coisa pra radicalistas e que prefere me ver trabalhando para ganhar pouco do que destruindo aqueles malditos monstros de ferro. Amanhã vamos invadir aquela fábrica de sapatos do lado do teatro, estou muito entusiasmado.

[Agosto - 1811 ]
Ganhamos um apelido bacana, "os quebradores de máquinas", o Ned disse que estamos indo muito bem e que em breve conseguiremos ser ouvidos... Eu acho que ele está sendo muito otimista, já prenderam, deportaram e enforcaram muitos de nós, eu estou com muito medo.
Ned é muito corajoso, hoje de tarde ele estava me contando que destruiu o traje do seu patrão em Leicestershire, onde ele trabalhava antes de entrar no movimento.
Rachel chama ele de "revoltadinho".

[Outubro - 1811]
"Os que com um só forte golpe
rompem com as máquinas cortadeiras
O grande Enoch dirigirá a nossa vanguarda
Quem se atreverá a detê-lo?
Adiante sempre todos homens valentes
Com acha, lança e fuzil..."

É o trecho de uma de nossas canções, Rachel vive dizendo que virei um vândalo desde que entrei para o movimento, olhe bem pra minha cara, vê se eu tenho cara de quem vai trabalhar 80 horas por semana pra ganhar uma porcaria de salário!?

[Janeiro - 1812]
A nossa luta está cada vez mais perigosa... na quinta- feira Adrian foi enforcado, estou furioso.
Confesso que não aguento mais isso, só vou continuar pelo meu querido amigo Adrian...

[Abril - 1812]
Hoje a noite vamos invadir a manufatura de William Cartwright, aquele metido!
Esse vou invadir com gosto, cara mais metido eu nunca vi! Estou sentindo Rachel meio fria comigo, o que será que está acontecendo?

[Junho - 1812]
Rachel me largou, disse que estou me envolvendo demais com o movimento. Ela não me entende mesmo! Faço isso para defender meus direitos! Esses superiores acham que podem chegar colocando essas porcarias de ferro no lugar de nossas mãos trabalhadoras e vamos aceitar numa boa? me poupe! E ainda acabam com meu casamento, agora, mais do que nunca, tenho um grande motivo pra ir contra a mecanização do trabalho!

[Setembro - 1812]
malditos trade-unions! estão acabando com as nossas revoltas. Cansei, vou sair desta droga, perdi minha mulher, minha dignidade, tô pobre, vou virar mendigo, com sorte ganharei alguns tostões..

[1813]
Sorte minha ter saído ano passado, estou trabalhando honestamente como Rachel sempre quis, ganhando pouco, trabalhando como um corno, mas estou feliz, aquilo não era vida.
Soube que 64 dos meus amigos Ludistas foram acusados de terem atentado contra a manufatura de Cartwright, aquele metido! 13 foram condenados a morte e 2, John e Phillip, a deportação para as colônias. Estou morrendo de raiva, pensando em voltar ao movimento, mas ele está ficando fraco e não quero ter o mesmo fim de meus amigos. Os Cartistas estão conquistando várias direitos políticos e tal, eles foram mais éticos que nós, talvez eu devesse entrar para o movimento dos Cartistas...

terça-feira, setembro 15, 2009

Como é caro ser hippie

Então eu disse pra minha mãe:
- Mãe, vou ser hippie.
ela olhou nos meus olhos e respondeu sabiamente:
- Hippies não tomam banho.
Eu não tinha pensado nisso até então, mas gosto da ideia de vadiar pelas ruas, burlar regras, coisa e tal.
Ontem, eu estava andando pela rua da Conceição e me deparei com uma loja que vendia artesanatos e roupas hippies.
Me enteressei e entrei.
Preços assustadores me gritaram que hippies não podem ser pobres, definitivamente.
Só queria mostrar minha indignação com esse post. Tenho que vender muita pulseirinha do lado das barcas pra conseguir comprar uma daquelas roupas e aí sim começar a não tomar banho...

sábado, setembro 12, 2009

The nights of my life

Ao remexer alguns papéis antigos me recordei de umas épocas.
Épocas essas em que eu era tão inocente quanto pudera ser.
Sexo, drogas e Rock'n roll era alguma coisa que eu ouvia na tv.
Lembrei das minhas nights, aquelas onde eu implorava para meus pais deixarem eu ir na private de fulaninho, ou na matinê que vai ter ali.
Quando digo que implorava, eu juro, eu realmente implorava!
De uma forma mágica e mística, hoje em dia, não suporto festas.
Milagrosamente como eu nunca imaginei que pudesse odiar.
Se esse ano eu fui em uma festa, certamente, foi porque alguma aniversariante implorou muito ou porque em casa tava muito chato.
Não sei se estou me tornando uma adolescente chata e/ou uma amiga insuportável, mas de alguma forma me libertei dessas coisas.
Agora, mais do que nunca, minha nights se resumem em basicamente uma saidinha na pizzaria ou uma caminhada na praia.
Meus amigos chamam isso de envelhecimento precoce, outras pessoas preferem ficar com a hipótese de eu estar me tornando uma moçinha (haha), eu digo que essas, agora, são The nights of my life.

quinta-feira, setembro 03, 2009

Para minha amiga e psicóloga Jane

"Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava.
De olhos abertos, lhe direi:
- Amigo, eu me desesperava."

Foi como se por um período eu estivesse fora de mim..
Na última segunda- feira eu liguei a televisão e a novela que havia começado há uma semana tinha acabado!
No meu orkut várias pessoas perguntavam sobre o meu paradeiro.
Tinham 73 mensagens no meu celular, a maioria delas dizia mais ou menos assim: - Cara, cadê você? tá todo mundo te procurando, o que houve? ficando preocupado, qualquer coisa liga pra esse número..
Como isso foi acontecer?
Na terça eu liguei a tv e uma reportagem no Jornal Nacional me chamou a atenção, dizia: - Procura-se Belchior, o cantor está desaparecido desde 2007...
Foi então que me desesperei.
Comecei a andar pelas ruas, procurando informações atuais, tava óbvio o que eu estava imaginando..
Fui na banca de jornais e comprei um jornal, o meia hora que é baratinho, perguntar em que ano estamos seria muita loucura.
Me assustei ao ver 2009.
É como se eu tivesse hibernado por uns tempos...
Passei pela loja Casas Bahia e vi tantos eletrodomésticos e eletroeletrônicos modernos que me senti tentado em comprar uma tv de plasma, fininha! Como pode? clichês a parte.
Soube que ia ter um show do Tom Zé, esse cara sempre foi ícone para mim, resolvi ir, sem máscara nem nada, mas não vou me expor tanto, sumido por "tanto tempo", acho melhor pensarem que morri.
Peguei um carro e fui direto pra Brasília, lá algumas pessoas olhavam pra mim como se me conhecessem, talvez tenham me reconhecido, mas não estou muito preocupado em me esconder agora, quero conhecer esse "presente-futuro " .
As pessoas têm tentado tanto me ligar que na volta do show dei meu celular pra um mendigo que vagava pela rua.
Cansei desse Brasil chato, conheci uma mulher maravilhosa que me convidou para morar com ela no Uruguai, uma linda morena.
lembrei que esqueci meu carro no estacionamento daquele shopping que você gosta, agora já é tarde, mas se você quiser passar lá pra mim e pagar a multa não vou me importar.

"Eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes
E vindo do interior..."

Aqui no Uruguai é muito bom, tenho muitos amigos, estou pensando em começar um novo trabalho de tradução das minhas músicas para o espanhol, leio diariamente pela internet as pessoas me procurando desesperadamente. O que querem tanto comigo? eu bem aqui, me deixem em paz!
Enfim, Jane, você pode não acreditar nisso tudo, mas escrevendo isso pra você, porque além de você ser minha psicóloga, você é minha amiga. Te peço que não conte nada a ninguém, estou tranquilo aqui, e como vai sua vida? A família tá bem?

Um abraço, Belchior.

quarta-feira, setembro 02, 2009

Histórias de Tião - parte 1

Marise: Hoje não tem comida em casa, tratem de se virar.

Andei pelas ruas cabisbaixo até que lembrei de Claudinho, esperto que só aquele neguinho, daria um jeito de me ajudar.
Fui até a padaria do Portuga Fernando Cardoso, sempre com aquele sorriso de deixar qualquer um contente.
Lá estava Claudinho, comendo seu sanduiche de presunto com refresco de groselha.
Gritei: - Fala seu preto meliante!
- Eta Polaco desgraçado. Tá fazendo o que por aqui uma hora dessas?
- Cara, preciso de um favor seu.
- Pode mandar, faço tudo pelo meu amigo polaco preferido.
- Tudo mesmo cara?
- ah, faço sim, Tião. Por que? O que arranjou dessa vez cara?
- Você sabe que mamãe tá desempregada né?
- Ih Tião, emprego aqui na Rocinha tá difícil pra caramba..
- É eu sei, e só estão empregando pessoas mais moças.. mamãe já deixou de ser moça faz tempo.
- E o que vc quer que eu faça? Se for dinheiro desista, não tenho um conto de réis pra lhe dar!
Mas que filho da mãe! hoje em dia não se pode pedir favores e já acham que queremos dinheiro, que mundo injusto!
- Não quero dinheiro, seu preto! preciso de suas habilidades africanas para pegar uma daquelas galinhas gordas do Tuninho!
- Ai ai ai, Tião !
- Você disse que faria tudo..
- Vou fazer porque você é meu amigo, mas saiba que você vai ficar me devendo essa!
- Valeu Claudinho, você é amigão!
- Simbora!
Fomos andando até chegar no quintal colossal da casa do Tuninho, ainda bem que não tem grade, seria difícil pular sem ganhar algum ou alguns arranhões.
O Claudinho é muito esperto, trouxe um galinho, daqueles pequenos e brabos, de vez enquando ganhava algumas brigas de galo na rua com o bichinho, dava pra lucrar uns bons cascalhos! Eu bem que podia arranjar um daqueles, iria lucrar bastante..
- Agora é só soltar ele e assistir o show, Tião! com uma mão eu solto o galinho, com a outra eu pego a galinha!
- Puxa Claudinho, quanta esperteza, com quem aprendeu isso?
- Foi meu avô, aquele preto velho sabia de tudo que tem nesse mundo e mais um pouco, aí me ensinou algumas coisas..
- Meu avô morreu ano passado, ele tinha uma doença que ficava tremendo as mãos, era engraçado, minha mãe dizia que ele servia bem pra fazer nenem dormir.
- Como assim?
- Ai, mas você é jumento mesmo hein, Claudinho! Servia pra fazer neném dormir porque ficava tremendo as mãos, se tremesse na cabeçinha do bebê logo iria fazê-lo dormir, capiche?
- ah sim! Tião, me diga uma coisa, Pra que você quer essa galinha?
- Pra comer oras!
- ah sim, claro, agora temos que torcer a cabeça dela... feche os olhos, Tião.
Deu pra ouvir o 'crec' do pescoço e o último suspiro da pobre galinha, tinha bastante sangue e a bicha continuava se mexendo, sinistro! Será que se eu cortar minha cabeça eu continuo me mexendo?
- Pronto. Chega de corversa, segura ai meu galinho, vou colocar a galinha nessa bolsa de lona, o galinho você põe na outra. Vamos pôr um bocado de mato por cima para que ninguém perceba o conteúdo. Me ajude!
Que preto esperto, esse ia longe! Começamos a andar, as pessoas viam a bolsa, não notavam, nem se quer imaginavam o que havíamos acabado de fazer, mas afinal, um menino precisa se alimentar! E por toda gente que passávamos o Claudinho gritava:
Puxa, não consegui pegar a erva que queria hoje.. que pena, tentamos amanhã.
Como era esperto e burro esse preto meliante...