segunda-feira, junho 21, 2010

Diga "X"

Luís tinha pouco mais de uma década quando ganhou sua primeira câmera fotográfica.
Era uma marca desconhecida e 2.0 mega pixels, mas foi o suficiente para encantar o pré adolescente.
Com três meses economizando o dinheiro do lanche da escola comprou um memory card de 1G e, assim, sua pequena vida de fotógrafo amador começou...
Fotografar era mais que uma paixão, era a vida de Luís.
Na escola, porém, haviam leis que proibiam o uso de aparelhos eletrônicos e, por duas vezes, Luís fora pego fotografando tudo que lhe parecia atraente.
Acontece que essa fascinação por fotografia, de alguma maneira, começou a atrapalhar Luís nos estudos, de forma que ele não sentia mais vontade de estudar e, então, seu rendimento escolar entrou em declínio.
Foi quando, então, seus pais perceberam que era preciso fazer alguma coisa.

- Rapaz, você gosta mesmo de fotografar, heim?
- Sim, pai! Um dia serei um fotógrafo de grande sucesso.
- Claro que sim, meu anjo. - Disse a mãe.
-Querido, acontece que estamos percebendo que suas notas escolares não têm sido tão boas ultimamente.
- Eu odeio a escola!
- Para ser um fotógrafo de sucesso você precisa estudar, Luís.
- Por que? Não é só apertar o botão? Não preciso estudar pra apertar o botão. Além do mais a câmera vem com manual, quando eu quiser leio.
- Quem dera as coisas fossem tão simples. - disse a mãe.
-Bem, mas creio que não era exatamente isso que eu queria falar com você, Luís.
- Então o que?
- Vamos guardar sua câmera por alguns dias.
- QUE? Por que vocês estão fazendo isso comigo? Vocês me odeiam? Por acaso estão querendo se livrar de mim? Querem que eu morra no auge da minha juventude??
- Não seja exagerado, Luís, são só alguns dias, você vai sobreviver.
- Vocês não podem fazer isso comigo, eu preciso da câmera!
- Me dê a câmera. - Os dois disseram em uma sintonia tão grande que mais parecia ter sido ensaiado.
- Eu odeio vocês!

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Alguns dias se passaram sem que Luís ousasse pronunciar uma só palavra.
E, diante das circunstâncias, seus pais resolveram levá-lo ao psicólogo.

- O que você quer fazer?
- Por acaso você não teria uma daquelas câmeras de tirar fotos por aí, teria?
- Creio que não... Mas eu tenho War Império Romano, isso não te interessaria?
- Bem... vou ter que ficar aqui até 16:00, não é mesmo?
- Sim.
- Eu aceitaria o azul.

Algum tempo se passa, jogo rolando, Luís em silêncio.

- Ei, Luís, o que você gosta de fazer?
- Fotografar.
- Só?
- Hum... só.
- Não vai me perguntar o que eu gosto de fazer?
- Bem... já que você perguntou... o que você gosta de fazer?
- Escrever. Na verdade meu sonho mesmo era ser roteirista mas vim de uma tradicional família de psicólogos. Mas até que eu acabei gostando disso aqui e, além do mais, é o que me sustenta, não posso abrir mão.
- Pois deveria. Já ouvir falar em Carpe Diem ?
- Já ouvi sim.
- Significa "Aproveite o dia". Um dia você olha pra trás e vê que não aproveitou a vida. E você só vai poder lamentar.
- Você é um rapazinho muito inteligente! Onde aprendeu essas coisas?
- Venci.
- Uau! Mas já?!
- Sim, meu objetivo era derrotas o exército branco e como não tem exército branco na jogada meu objetivo passa a ser "Conquistar 24 países a sua escolha".
- Parabéns! Jogou como um verdadeiro Napoleão!
- Não, joguei como um.. (Luís faz um clique com uma câmera imaginária)

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- O que ele falou sobre mim, pai?
- Disse que você é louco por fotografia.
- Quanto você disse que havia pagado nisso mesmo?
- Na consulta?
- É.
- 50 pilas.
- Ei, pai, por 50 reais eu posso jogar War sozinho e no final do jogo posso eu mesmo te dizer que sou louco por fotografia.





quinta-feira, junho 17, 2010

Santa Maria

Ando de um lado para o outro na varanda desse prédio.
Inquieta e constante não paro de ir e vir.
Deve ser a Santa Maria,
a cheia de graça.
A imaculada, que ria sem graça da desgraça alheia.
No pânico de olhar as horas dormi, acordei, sonhei, demorei.
No meu devaneio não pensei em te ligar apenas,
mas seria loucura demais.
Entre um copo e outro a Santa Maria me olha de lado, com seu olhar frio e calmo.
Disfarça a fumaça, a raiva, de graça...
Junto e misturado a um copo de 300 ml
Eu bem que demorei pra entender o motivo da demora
E a Cheia de Graça foi só mais uma que me traiu
me deixando enlouquecer

domingo, junho 13, 2010

Voltando pra casa

O céu de Buenos Aires não é o mesmo do Rio de Janeiro.
Ao olhar para o céu não vi a beleza das nuvens.
E no horizonte distante não vi o Corcovado.
Meus pés sujos de barro declaravam que havia estado longe.
Com meu sotaque desconfigurado me senti estranha em meu próprio país.
E pra piorar, quando pisei no Rio de Janeiro o comissário me cantou dizendo:
- Bienvenida al Brasil, guapa.
E por força do hábito respondi:
- Gracias.

sábado, junho 05, 2010

Totalmente contra-reforma

A idéia de mudar o português não me caiu bem.
Teria que cair na cabeça e de um prédio bem alto para que eu aceitasse.
Mudar por mudar e dizem que vamos nos modernizar.
Se eu tenho até 2012 para me adequar vou torcer para que os Maias estejam certos.
E que a reforma seja diluída pela água.