terça-feira, dezembro 24, 2013

Roberto e seu gene maldito

Cursou direito numa universidade publica como seu pai queria.
Conheceu uma moça no mesmo ano em que passou na prova da OAB por acaso numa casa de festas em Laranjeiras.
Casou-se quando conseguiu um emprego público. Tornou-se o queridinho da sogra.
Três anos depois teve filhos, gêmeos.
6 meses depois teve úlcera, possivelmente em decorrência do alcoolismo, genético.
Mas tinha uma casa bonita na zona sul do Rio de Janeiro e dinheiro pra trocar de carro de dois em dois anos.
Se morresse amanhã talvez a mulher ficasse com a herança.
E nada teria acrescentado ao mundo além de sua prole, que seguiria igualmente seu destino.
Se tivesse ouvido seus próprios anseios, talvez hoje estivesse assinando quadros em tinta óleo.
Talvez tivesse um próprio ateliê.
E talvez tivesse úlcera, possivelmente em decorrência do alcoolismo, genético.


segunda-feira, outubro 21, 2013

Thérèse Philosophe

"A verdade anticristã deve restringir-se a uma pequena elite; pois se a gentalha vier a conhecê-la ocorrerá uma debandada.[...] Portanto, todas as religiões são falsas e todas são necessarias." Abbé T.

segunda-feira, setembro 09, 2013

Amor de verdade só na novela das 8

Pedro e Nicholas eram como amantes de novela
Riam alto, se abraçavam
E de longe, mil olhos na janela
Julgando e apontando
O amor de novela

Eles não podiam ultrapassar o limite moral
Deviam respeitar as crianças inocentes
e até o religioso doente

Mas o amor de Pedro e Nicholas era livre em horário nobre
Que era quando a noite os escondia
da hipocrisia do dia-a-dia.

sexta-feira, setembro 06, 2013

Histórias de Tião - Terceira

Em uma quarta-feira ensolarada, Sebastião dos Santos, mais conhecido pelos amigos de Madureira pelo apelido de Tião, carregado do tédio das férias de meio do ano foi convencido por seu primo, Catu - ou Carlos Arthur, quando a coisa ficava feia - a fazer juntos uma tatuagem.
Só os mais bacanas em 66 tinham uma tatuagem.. e também os subversivos, os comunistas, os drogados, os hippies, e os contraculturais, em geral.
Tião nunca se enquadrou em nenhum desses perfis. A tatuagem tinha fins estéticos. Ele queria mesmo era se sentir bacana diante de Lice, Alice Martins Vidal, uma  inteligentíssima estudante de Ciências Sociais na UFRJ, militante pelo PCB há 2 anos, líder do grêmio estudantil por 3 consecutivos durante o colegial e tão comunista quanto o sangue que lhe corria entre as veias. Morava em Cascadura mas fazia curso de inglês em Madureira junto com Tião. Eles nunca se falaram mas trocaram olhares uma vez na saída da aula.
Chegando no estúdio, um balcão abandonado e sujo, um homem de meia idade veio os atender. Camisa colorida, óculos escuro redondo e entre os dentes paz e amor.
Nos braços haviam muitos desenhos tatuados, alguns sem pé nem cabeça, todos feitas há menos de 5 anos nos EUA de onde afirmou posteriormente nunca dever ter saído.
A tatuagem custava 10 reais sendo pequena, se fosse grande ou contivesse círculos ou aspirais, o dobro. Os desenhos iam de cogumelos a versículos bíblicos.
Mas um pequeno e singelo desenho entre mil outros o chamou atenção.
"Ah.. Alice, dos meus desejos mais profundos nenhum supera a vontade que tenho em te ter." - Pensou alto
- O que disse? Vai querer esse aqui?
- Esse mesmo.
- Um pouco ousado, não?
- Esse mundo precisa de pessoas ousadas, com coragem de lutar até o fim pelo que querem!
- Determinado assim não vou nem cobrar pelo círculo. Vai sair dez reais cada uma.

Eu só posso estar amando

É novo, é estranho, é gostoso
Não da borboleta na barriga nem aperto no coração
O que eu sinto de segunda a segunda faz sorrir com os pés no chão
Eu posso até voar mas não voo mais sozinha
Tenho alguém pra apertar a mão

Não sinto mais medo de altura
Se eu cair, ele me segura então
É amor o que eu sinto de domingo a domingo
Faz dormir sem ilusão
E acordar com sonho bom

O que eu sinto de quinta a quinta não me tira o sono
As vezes parece que eu tô sempre sonhando
Mas dizem que sonho é preto e branco
Então eu só posso mesmo estar amando

Ordem e Progresso

Tudo deve ser
do meu jeito
do jeito certo
como deve ser
Como ditam as regras
nego obedecer
Para manter a ordem
lei e rei
deve ser respeitado
papa, bispo ou condado
Todo poder
derrubado
seja louvado
para que o progresso da bandeira
em nome da ordem
finalmente faça sentido





Menina, Menino

Tão homem, tão menino
Quando lhe roubo um beijo, quando lhe falo ao ouvido
Tão sensível, tão comedido
Quando lhe faltam carícias, quando me ama dormindo
E quando dorme é bem menino mas já pela manhã se faz homem
atrasado e tudo
Por dentro,o medo de menino
Por fora, tomado pelas obrigações do homem
Se pudesse, seria do mundo o umbigo e com o cetro no centro eu seria rainha.
E quando menino à noite eu em ti mandaria
Mas no amanhecer entre o sol o homem em ti me viria pra lembrar que aqui também tem menina cheia de medo e mania

segunda-feira, setembro 02, 2013

Gasosa

Definitivamente eu não sou concreta
Nunca tenho certeza de nada
Não termino frase com ponto
Deixo tudo por fazer
coleciono amores, textos e ideias inacabadas
coloco tudo na mesma gaveta e nunca mais quero saber

Eu te odeio

Eu odeio o jeito sem graça como você sorri
odeio seus cabelos cacheados
odeio as suas tatuagens
odeio a sua orelha torta e mal desenhada
odeio esse seu sotaque paulista insuportável
odeio as suas fotos
odeio ver as suas Partes espalhadas por aí

segunda-feira, agosto 12, 2013

Fugindo da própria sombra

Eu queria ser você há um tempo atrás
Tentava de todas as formas
Vivia a minha vida tentando me modelar
fingia ser aquilo que eu não era
Decorava gostos e jeitos
Até que um dia eu me tornei você
E ao olhar pra trás os rastros que eu deixei pareciam estragos no chão
Então tudo que eu tinha como parâmetro se desmoronou
De repente eu me dei conta do monstro que eu estava criando
Era hora de voltar a ser eu mesmo
E se eu fosse o primeiro a voltar pra mudar o que eu fiz
Quem então agora eu seria?
Eu nem mesmo consigo me lembrar quem eu era antes disso tudo começar
Se você nunca tivesse entrado na minha vida o que eu estaria fazendo dela agora?
Ah, tanto faz que o que não foi não é
Eu sei que ainda vou voltar
Mas eu quem será?
Eu tô um pouco aqui também
E um pouco ali nos outros
Eu sou um pouco de todos que por mim passaram
E por onde eu passo deixo um pouco de mim
Se o que eu sou é também o que escolhir ser
Aceito a condição

quinta-feira, agosto 01, 2013

Eu quero mais tempo pra te amar

Você se tornou tão virtual que as vezes quando penso em você imagino uma foto sorridente
Mas você é tão mais que isso pra mim que mesmo que uma foto apenas fosse mais que uma foto apenas seria.
Estamos nos perdendo pra nós mesmos e pra tudo aquilo que ocupa as 24 horas do nosso tão efêmero dia.
Como deixamos isso acontecer?
Nos tornamos tão secundários em nossas próprias vidas, tão escravos dos nossos afazeres que já não temos tempo de sermos um.
Somos dois perfis num site qualquer na internet, dois telefones, duas pessoas interagindo da maneira mais distante possível.
Como se deveras fosse a nossa distância física.
E no meio de tanta comunicação interpessoal a gente já não se olha nos olhos.
A tecnologia tomou conta de nossas vida e de nossos sentidos.
Eu te ouço todos os dias sem te sentir.
Mas aqui fora, do outro lado do mundo cibernético algo pulsa dentro de mim quando tão escura e friamente nos comunicamos.
Eu te entendo, te leio, te amo e isso não é virtual.

terça-feira, julho 02, 2013

Bora?

Bora - Ela sempre dizia.
E nunca ia.
Eu já a convidava quase sem esperanças de que um dia ela realmente fosse
Tomar aquele suco tão prometido ou ver aquele filme que já até saiu do cartaz.
Mas eu a amava em silêncio. Todos os dias.
Religiosamente, pela manhã ao tomar meu café eu imaginava se estaria ela a tomar também e no que estaria pensando quando destraída estornasse um pouco de açucar fora da xícara.
Olhando pro açucar que derrubei, era o que eu era, aquele açucar despresado no canto do píres a imaginar se ela um dia ia olhar pra mim.
Eu poderia a amar mais do que qualquer um nesse mundo sem ser clichê.
Mas o meu ombro ela só quer pra desabafar as desilusões de outros enredos.
Bora - eu digo
Ela faz que sim com a cabeça quase sempre. Ás vezes ri, às vezes chora.
Mas ir, "nunquinha" - como ela mesma diz.
Eu continuo esperando.
Às vezes rio, às vezes eu choro. Mas desistir? nunquinha, meu bem, nunquinha.

Boa viagem, meu caro

Use tudo que puder
Guarde tudo que quiser
Traga tudo que couber
No bolso ou no peito

Mas não se perca no caminho
Em cada avenida encontre uma alma perdida
Que te queira ser amiga

Não volte, portanto, vazio
Traga em si muito mais que fumaça no peito
Traga na mente a lembrança
E o valor das coisas como criança

São muitas milhas pra poucas linhas
E muitas idas pra poucas vindas
E desse viagem, eu espero que um dia você possa voltar

E um dia possamos comemorar
Outras idas e vindas pra qualquer outro lugar

sexta-feira, maio 31, 2013

[in] veja

Você tem a mania de distorcer minhas palavras
Me faz sentir o pior ser humano do universo
Me desenhando em multi faces
Cada qual com uma máscara diferente
Em uma, como se eu tivesse um punhal entre os dentes
E enfiasse o mesmo em cada pessoa com quem interagisse

Eu não sou isso que você desenha
Eu posso muito bem fazer um auto-retrato
Eu não sou melhor do que ninguém aqui
E nem tenho a pretensão de ser
Esse não é um jogo de disputa de ego
Eu decido quem eu quero ser
O seu lápis não define o meu caráter
Mas o jeito como você me critica, só mostra o que você sente ao me ver.


quinta-feira, abril 04, 2013

Blue Marina

Nos olhos, um oceâno cismava em transbordar
Era época de cheia
E tudo vinha em forma de ondas
Que da beira do mar traziam todas as imundices da raça humana
Poluindo de fora pra dentro
Transbordando de dentro pra fora
E nunca secando
Era como ver o mar em si
Na beira da marina, tudo estava assim, azul.

terça-feira, fevereiro 26, 2013

Da arte

Eu sou da arte
É por ela que me disponho
E me componho
Recompondo em compaço o estrago de todos os males
Exposto em forma de ferida
Eu sou da arte
De marte
De Sartre
Mas está ficando cada vez mais tarde
E sinto-me na obrigação de prosseguir por outros ares
Fugindo todos os dias
E procurando em cada suspiro de agonia
A quinta sinfonia

sábado, janeiro 12, 2013

Saída de Emergência


Na mesa estavam todos os meus amigos, aqueles que eu costumava rir nos fins de semana
E dentro de mim o desejo de ir embora gritava quase por querer
Nem a cerveja tava tão gelada e o meu corpo parecia entrar em estado de fusão
A minha melhor amiga tinha um cheiro desconhecido
Pareciam todos terem andado por outros ares, eu não os reconhecia mais
As piadas eram ruins e o riso era insuportável
Eu não fazia parte. Eu precisava sair de mim.
De longe eu avistei uma placa em letras vermelhas escrito EXIT
Era uma saída de emergência, um beco muito escuro que cheirava a gente morta
Mas eu não pensei duas vezes, eu entrei de cabeça e caí noutro bar, noutra mesa de pessoas desconhecidas.

A sabedoria cristã

A verdade é que a bíblia tá certa
Não adianta nada distribuir boas ações mundo a fora se no final você vai ser crucificado

quinta-feira, janeiro 10, 2013

A sorte dos bem aventurados II

Acho que faltava mesmo era coragem pra esbofetear alguém
Seguir em frente não se tornou senão a única alternativa para ela
O medo, a culpa, o arrependimento
Todos misturados num unico copo
com bastante vodka barata

A sorte dos bem aventurados

Por maior que fosse a tristeza em que havia se afundado
E por mais motivos que tivesse pra esbofetear o primeiro que passasse em sua frente
A única coisa que conseguiu fazer inteiramente foi reunir os restos mortais que haviam sobrado de si mesma
E seguir em frente.

Medo

De quase tudo eu tenho medo
E eu acho que isso eu já disse por aqui
Até quando eu giro a maçaneta, eu tenho medo do que ela possa abrir
Sinto como se eu tivesse pouco tempo
Entao eu me permito ser amada
Mas no fundo dos olhos é puro medo

Me permito descobrir uma ciência
Só pra concluir que a detesto
E no fundo dos olhos
É puro medo de da vida sair sem dela nada descobrir

Então eu descubro o que eu realmente quero
E fico com medo de me decidir
Medo de seguir em frente
Medo de continuar aqui

Indeferida

Eu nem mesmo sabia o que significava indeferida.
De todo modo, eu estava indeferida naquela listagem.
E pesquisando no dicionário quase vi o meu nome naquela descrição.
Como se tudo na vida já não bastasse pra eu me sentir do lado de fora,
o resultado que esperei durante meses me qualificou como indeferida.
E me deixou assim, ferida.
Ferida por ser mais um a me deixar de lado, no canto do prato.
Como se precisasse ratificar o que sempre fui.
Como se fosse um registro, um registro ferido de uma ferida indeferida.