Calendário dos homens

Hoje é segunda feira
Amanhã será terça
e depois quarta

O calendário dos homens é uma paisagem
Respiro o ar da noite que entra pela janela
Toda noite ela vem
E vem com as mãos cheias de conchas

Mergulho e afundo-me nas correntezas
E volto emaranhado nas algas de suas mãos

Hoje é terça feira

Amanhã será quarta
E depois quinta

É primavera
E o calendário dos homens é uma paisagem

Autor: Jayr Godinho Marins - Vulgo: meu pai

Borboleta Flor

Sou lenda
Da poeira dourada de crepúsculos siderais
Nasci flor
Minhas flores desabrocharam para a dança de uma borboleta
Asas translúcidas e pétalas cintilantes
enroladas pelo azul do infinito
No abraço predestinado, flor alada ou pétala de borboleta?
Sou lenda
Existo no néctar que sacia a borboleta
E alimento-me da possibilidade do seu voo.

Autor: Jayr Godinho Marins - Vulgo: meu pai.

Das outras coisas que o silêncio também diz

Essa agora sou eu
Com medo do mesmo silêncio
Que me fez sorrir com os olhos

Dessa distância
Não vejo o que os seus dizem
Mas se os meus pudessem
Diriam que quero ir com você

Mas isso eu já disse de outras formas...

Quase tudo o que um siêncio pode dizer

Quando ele chega

O silêncio                                                                                                           

A boca cala
O olhar fala

As formas de dizer

Ilimitadas                                                                                                           

Mas de alguma forma
Todas aquelas palavras
Cabiam em um olhar

E no silêncio                                                                                                      

O adeus estava próximo
E nem parecia

Sobre a falta que ainda vou sentir já sentindo

Estudo o tempo porque o temo
Olhando para o meu centro  
Vejo um passado imenso
 
O presente é efêmero
E o futuro só tormento
Entre os três tempos 
uma linha tênue
 
O doce sopro do vento 
e já é Dezembro
Acordo e só penso no que não tenho

 
 
Tudo passa
Menos essa minha falta

Fica bem

Essa sua fraqueza me mata
Me tira a calma, me arranca a alma
Peço apenas que fique bem
Mesmo que não tenha mais ninguém
Em alguma parte do mundo
Alguém te manda energias além

Da embreagem com amor

Essa garota gosta de sentir que está no controle
E segurando forte o volante me leva pra onde quiser
Pé colado no dela
Eu sou da estrada
Não sou de nada
Sou de quem vier
E acelerando o máximo que pode
Mesmo com medo da morte
Me ama e me pisa como quer

Vou esquecer meu medo de inverno

Hoje é terça feira
E eu não tenho medo da chegada da quarta
Por fora o calor de janeiro parece cada vez mais próximo
Mas aqui dentro eu sei que logo vai fazer frio
Como todo verão tem seu fim
E todo fim tem seu recomeço
Também não vou ligar se o inverno resolver chegar
Ele pode vir pra aquecer
Assim como tudo um dia pode esfriar
E a única certeza que eu quero ter
É a de deixar estar

perco/procrastino, logo existo

E quantas horas do dia contigo eu perco?
E se me permito perder
Será que você me ganha?
Perco meu tempo pensando se sim
Passo o tempo dizendo que não
Paro no tempo
Dou um tempo
Me sento

Perdi mais um dia
Amanhã eu tento.

Quando a mudança não passa de desejo

Quando mudo de brinco
Acho que mudo de frase
Acho que mudo de vida
quando penso que abandono a crase

Sempre que corto o cabelo
Parece que mudo de tom
Parece que vou pra outra nota
Parece que o céu vira chão

Se eu mudo agora de
linha
Se agora eu escolho outra rota
parece que tudo se alinha

Mas dentro tudo se entorta

A espera de um contato

Entre todos os lugares que eu deveria estar
E todos os lugares que eu gostaria de estar
Resta esse infinito não estou
E entre todos os abraços que eu tenho pra te dar
E os beijos que ainda vou dar
Resta esse eterno não te tenho

Abraço calado/contido

Esse medo que tens hoje
Já foi meu no passado próximo
Surge com muito barulho
E não cala em qualquer abraço dócio

Essa coragem que tens hoje
Acho que também já foi minha
Ou pelo menos eu achava que fosse
Antes de me ver aqui sozinha

Entre ser e estar

Entre leões e leoninos

Um monte de pelos 

e apelos

Soltos e presos no ar

Se sou assim tão felina

Ou até mesmo um tanto canina

Sou assim tão animal

E sem medo de seguir o tal instinto

Encho em mim um copo de tinto

E um pouco de tinta 

pra variar

Se eu vivo em meio a selva

Espero sentir o gosto da relva

E pintar em mim a alegria de estar

Yo no creo en brujas pero que las hay las hay

Lua crescente, gatos pretos e feitiços
protagonizavam impávidos os sacrifícios
de uma noite estrelada
Iluminados pelo signo do cachorro
fomos intimados a uivar em companhia da lua
Já quase roucos e loucos
brindamos a todas as bruxas, gatos pretos e feitiços
que em tempos de lua crescente
eternizaram seus uivos no ar.

Fumaça de janela

Debruçada fuma

Na mente tagarela

Que será que pensa

A moça na janela?

Essa moça se entrega a acreditar
Que está fora dessa moda
Que não dança conforme a dança
E que portanto é assim singular
Se eu pudesse dar algum conselho
Diria que tenha algumas certezas
Mas não se convença a viver uma ilusão
Pois a frieza tecnológica já corrompeu o nosso dna
E há tempos faz parte do nosso habitus

Tempo de pipa

Temos pouco tempo
Temos tempo nenhum
Temos todo tempo
Pra ter tempo de nos ter

Isso pode nos matar
Pode nos fazer viver
Pode até silenciar
E não nos levar a lugar nenhum

Mas quando em meio ao tempo
Me pego tendo tempo de chegar
Enxergo em todo tempo
Pouco tempo pra amar

Trocas enérgicas

Eu era como qualquer aparelho eletrônico
Me alimentando da sua energia
Enquanto você me tocava
Produzia antipatia

Ontem eu me sentia desligado
Não haviam toques que me fizessem despertar
E já era normal aquele profundo estado de letargia

Mas o que aconteceu entre o ontem e o amanhã
Me recolocaram nesse antigo paradigma
E agora recarrego por energia solar
Na minha própria companhia

superficial

Andava longa vida poesia
Cantava, ria alto e escrevia
Sonhei sorrir os olhos com alegria 
Pensava estar em plena sintonia 
Que merda de dia.

O impulso produtivo

Num misto de ousadia e fantasia foi que aconteceu
Não tínhamos nada a perder
Eu, por nunca ter deixado de estar completamente perdida
Ele por parecer não ter medo de se encontrar
Descobrimos a loucura e a sanidade
Em uma porção de passos tortos e cegos
Meu coração batia tão forte que não sei como não ouviu o meu medo
E a confiança que ele passava era típica de um leonino
Ele pode até pensar que eu sabia exatamente aonde o estava levando
Mas no fundo eu só queria surpreender, sem fazer ideia de onde aquilo ia dar.

O que eu quero

Eu te amo
Isso nunca foi segredo tampouco dúvida
Te amo com todas as letras
De todos os alfabetos
Mas eu também amo ele
amo ela
amo eles
amo elas
E quero amar livremente
com todas as letras
de todos os alfabetos
quero amar em português, inglês, espanhol e italiano
quero amar em francês, alemão e grego
em japonês, em esperanto e dinamarquês
Eu quero amor, eu quero amar
Com você e sem você
E não quero te abandonar
Quero te amar e me amar
Quero me matar e te encontrar
Quero viver e morrer
quero correr e sentir prazer
Eu quero cansar e poder parar
Sem medo de me machucar

Sobre felicidade

Não da pra se entender
Se do lado de cá
Ainda eu não me entendo
Eu gosto de estar
com ele, com ela, com eles
E isso é sobre felicidade
E não sobre liberdade

Me matem domingo

Olhando por essa janela, vejo um mundo inteiro ao redor.
E a vontade de me jogar é inerente.
Do alto dessa sacada até que eu gosto da vista
Mas se ninguém nos tirar daqui vamos acabar morrendo

 De fome, de loucura ou até da falta de um par de asas.

Quero encarar de frente o tempo
pra dizer que não ligo se chover
Eu vou ficar molhada
Mas você também vai
E seremos um par resfriado

Manhã de ventos

Hoje eu quis te ligar como eu costumo fazer quando fico com medo
Peguei o telefone e lembrei do nosso trato
Fiquei torcendo pra você me ligar dizendo buongiorno principessa
Fiquei torcendo pra acordar desse pesadelo que eu criei
Hoje fiquei com muito medo dos ventos
E de tudo que os ventos podem trazer

Malboro Gold

Eu podia ter ido atrás
Eu podia ter esperado você voltar
Mas a única coisa que eu consegui fazer foi assistir
passiva e caladamente
você fazendo o caminho contrário ao meu

Eu vi quando você olhou pra trás
Só pra ter certeza que eu ainda estava lá
Parecia muito mais determinado que eu
quando nem pensou em sair correndo de volta
E eu pensei em tantas coisas
e a vontade era correr em prantos

Mas já era tarde demais
e você já havia sumido da minha vista míope
O choro veio só depois
quando percebi que fazia o caminho contrário ao que eu queria
Logo eu que lutei tanto pra fazer minhas próprias vontades

Neguei meu choro pelo resto do dia
E respondi quase todos os cumprimentos com um
"tudo bem, e você?"
Fumei um cigarro só pra preencher o vazio do peito
Que eu achava que se preenchia com liberdade

this is the end of the age of aquarius

Apaguei minha ultima lembrança dela
Os registros das nossas fugas tiveram como destino uma lixeira eletrônica
E todo o resto o lixo lógico levou
Antes pensando duas vezes, a tecla de deletar caiu em baixo do meu indicador
E eu só fiz o que eu tinha que fazer
Pra ter certeza que te apagar de mim
é a melhor fuga que eu poderia escolher.

pretérito perfeito (?)

acordei
neguei
respirei
caminhei
acreditei
sonhei
acordei

por enquanto

E ser um erro meu pode ser muito mais arriscado do que parece
Mas a desistência nunca nos deu medalhas
E o tentar é o nosso eterno motor
enquanto houver amor.

Nova velha boa amiga

Eu vou pegar a próxima nave que passar e fugir da realidade

Eu até pediria companhia
Mas por mais incrível que possa parecer nenhuma me cai bem
Justo eu que acreditava estar tão rodeada
Me descubro a cada gole de café mais sozinha
não que a própria solidão não seja boa companheira
Sua parceria não sempre se mostrou infrutífera
Diz-se inclusive sobre os romances com maior notoriedade
possivelmente fizeram dela co-autora
Lembrando isso, então, resolvi fazer o convite

E devemos viajar sábado à tarde.

Larissa

Eu não tinha fé mesmo
Cheguei a rir de quem falava em nome de deus
E eu achava que só ele mesmo podia falar por si
Tal qual qualquer um que goze plenamente de seus direitos autorais
E foi num dia desses, quarta ou sexta feira, algo assim
Eu vi o divino se tornar material
Eu estava quase me atirando ao precipício
a aceitar o inferno que a vida me traria
quando tão solidamente tive, em meio as chamas, um sorriso correspondido.

Curitiba

Entrou no site de viagens e escolheu o destino mais barato
não era bastante longe mas suficiente distante de tudo aquilo que o aprisionava
faculdade, família, estágio, orientador, namorada, paletó, sapato e gravata.
Na mochila, esperança.
Acendeu um cigarro e resolveu esquecer tudo aquilo que entre os passos deixava pra trás.
Sabia que logo ia voltar. Quando o feriado acabasse, pra ser mais preciso.
Mas a cada passo jurava que voltaria diferente.
E a cada tragada jurava que iria parar de fumar.