sexta-feira, outubro 09, 2009

Óculos da vovó

Naquele dia mamãe disse que eu estava enfezado, embora eu não soubesse direito o que é enfezado, estava óbvio que coisa boa não é, alem do mais, mamãe não costuma me elogiar, a não ser quando tiro dez em matemática, que para falar a verdade, foi só uma vez.
De qualquer forma eu estava enfezado, seja lá o que significa isso, andava de um cômodo para o outro buscando algo para fazer, era um daqueles sábados chuvosos no qual não há nada que preste na televisão.
Eu estava realmente entediado, Vovó se entretia com um daqueles livrinhos com palavras cruzadas e eu resolvi observar.
- Vó, o que você esta fazendo?
Embora soubesse exatamente o que ela estava fazendo, perguntei, talvez fosse para receber um pouco de atenção.
- Palavras cruzadas, querido - abaixando o óculos até a ponta do nariz -, quer me ajudar?
Eu não estava muito a fim de fazer palavras cruzadas, mas fiz que sim com a cabeça para não deixar vovó chateada.
- Pai do Iluminismo, você sabe quem é?
Vovó, às vezes, perde completamente a noção. Eu não tinha ideia do que diabos era Iluminismo.
- A lâmpada? - chutei
Vovó riu da minha cara como se eu houvesse falado a coisa mais engraçada do mundo.
- Ei, vó! Estou na 3ª serie!
- Desculpe, meu anjo. Me espere aqui, vou fazer um chá, você quer?
Por que é que velho tem a mania de achar que criança vai querer chá? É a coisa mais intragável do mundo!
- Hoje não, vó, obrigado.
Ela saiu, então, pensei que seria legal se ela chegasse e visse todos os quadradinhos completos. Os óculos dela estavam em cima da poltrona, resolvi pegá-los e come;ar a imitá-la, eu ficava engraçado com aquilo.
De repente, sem que eu esperasse, ele escapuliu da minha mão, se espatifando no chão e quebrando a perna direita. Eu estava ferrado, vovó iria me matar, ela amava aqueles óculos, os têm desde que eu nasci, até onde eu sei. Eu precisava dar um jeito naquilo, precisava de um durex, ou algo que o valha, então fui até a caixa de ferramentas do papai, peguei tudo, me tranquei no banheiro e comecei meu trabalho.
Na caixa de ferramentas do papai tinha de tudo, demorei mas finalmente encontrei algo útil. Lá tinha um treco esquisito chamado "Super Bonder", lembro de ver meu pai, algumas vezes, usando aquilo para consertar as coisas. Apertei aquilo e saiu uma coisinha transparente, meti o dedo e passei com bastante vontade nos óculos. O óculos colou e meus dedos também. Fiquei com os dedos completamente grudados, entrei em desespero, lavei com agua e aquela desgraça não saía de jeito nenhum!
Coloquei os óculos, já consertados, no sofá e vi vovó andando em minha direção e me perguntando se eu havia visto seus óculos, ignorei-a e corri para a cozinha. Meu polegar e indicador irão ficar grudados para sempre - pensei - lavei com álcool, detergente, vinagre, agua sanitária, limão, tudo! nada fazia meus dedos desgrudarem.
No fim das contas eles até desgrudaram, acho que de tanta coisa que usei, mas o importante mesmo era vovó nunca desconfiar que quebrei os óculos dela.

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