segunda-feira, novembro 06, 2023

Corpo-livro

Seu corpo 

livro ilustrado

por várias mãos


Tão livro quanto aqueles de quando eu não sabia ler

Abria no meio, ou em qualquer página

E fingia que era um oráculo

que ia me dizer o que fazer


Tão logo me percebi alfabetizada em imagens

Mas ainda não consigo te ler totalmente

És erudito


Me peguei relendo nossas imagens

Acho que de forma instintiva

Tentando decorar cada página 

na folheada imersiva e compulsiva

De ler pra crer


Eu faço assim: leio e falo

transpondo em outra linguagem

Mas que não deixa de ser 

tradução e traição

Mas é pra reviver


Ela é contadora de histórias - me citam.

Mas eu juro, não sei contar e leio mal pra cacete

Minha memória visual me salva

Gratidão, memória, minha máquina do tempo.


E gratidão também a minha capacidade inata

de não guardar nenhum segredo

fofoqueira não, historiadora


Reli as imagens e contei pra alguém

Que disse que era um livro infantil

Imagina! Só porque não tinha letras ainda.

Calma né

Se eu jogar um A, um I e um O

Tá bom pra você? 


AÍ Ó 

Abaixo um desenho lindo de se ler

Do livro que estou escrevendo sem perceber



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