sexta-feira, setembro 06, 2013

Histórias de Tião - Terceira

Em uma quarta-feira ensolarada, Sebastião dos Santos, mais conhecido pelos amigos de Madureira pelo apelido de Tião, carregado do tédio das férias de meio do ano foi convencido por seu primo, Catu - ou Carlos Arthur, quando a coisa ficava feia - a fazer juntos uma tatuagem.
Só os mais bacanas em 66 tinham uma tatuagem.. e também os subversivos, os comunistas, os drogados, os hippies, e os contraculturais, em geral.
Tião nunca se enquadrou em nenhum desses perfis. A tatuagem tinha fins estéticos. Ele queria mesmo era se sentir bacana diante de Lice, Alice Martins Vidal, uma  inteligentíssima estudante de Ciências Sociais na UFRJ, militante pelo PCB há 2 anos, líder do grêmio estudantil por 3 consecutivos durante o colegial e tão comunista quanto o sangue que lhe corria entre as veias. Morava em Cascadura mas fazia curso de inglês em Madureira junto com Tião. Eles nunca se falaram mas trocaram olhares uma vez na saída da aula.
Chegando no estúdio, um balcão abandonado e sujo, um homem de meia idade veio os atender. Camisa colorida, óculos escuro redondo e entre os dentes paz e amor.
Nos braços haviam muitos desenhos tatuados, alguns sem pé nem cabeça, todos feitas há menos de 5 anos nos EUA de onde afirmou posteriormente nunca dever ter saído.
A tatuagem custava 10 reais sendo pequena, se fosse grande ou contivesse círculos ou aspirais, o dobro. Os desenhos iam de cogumelos a versículos bíblicos.
Mas um pequeno e singelo desenho entre mil outros o chamou atenção.
"Ah.. Alice, dos meus desejos mais profundos nenhum supera a vontade que tenho em te ter." - Pensou alto
- O que disse? Vai querer esse aqui?
- Esse mesmo.
- Um pouco ousado, não?
- Esse mundo precisa de pessoas ousadas, com coragem de lutar até o fim pelo que querem!
- Determinado assim não vou nem cobrar pelo círculo. Vai sair dez reais cada uma.

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