Seu corpo
livro ilustrado
por várias mãos
Tão livro quanto aqueles de quando eu não sabia ler
Abria no meio, ou em qualquer página
E fingia que era um oráculo
que ia me dizer o que fazer
Tão logo me percebi alfabetizada em imagens
Mas ainda não consigo te ler totalmente
És erudito
Me peguei relendo nossas imagens
Acho que de forma instintiva
Tentando decorar cada página
na folheada imersiva e compulsiva
De ler pra crer
Eu faço assim: leio e falo
transpondo em outra linguagem
Mas que não deixa de ser
tradução e traição
Mas é pra reviver
Ela é contadora de histórias - me citam.
Mas eu juro, não sei contar e leio mal pra cacete
Minha memória visual me salva
Gratidão, memória, minha máquina do tempo.
E gratidão também a minha capacidade inata
de não guardar nenhum segredo
fofoqueira não, historiadora
Reli as imagens e contei pra alguém
Que disse que era um livro infantil
Imagina! Só porque não tinha letras ainda.
Calma né
Se eu jogar um A, um I e um O
Tá bom pra você?
AÍ Ó
Abaixo um desenho lindo de se ler
Do livro que estou escrevendo sem perceber